quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Carta de Diógenes Lins da Silva - meu tio, hoje falecido, que vivia na região de Serra Negra no sul Bahia, dentro da área em litígio entre cadastrados índios e produtores rurais - enviada à Promotoria Regional de Ilhéus.

Ilhéus, 09 de julho de 2012
À
Promotoria Regional de Ilhéus

 Sr. Promotor,
O governo em seu delírio esquerdista quer, a qualquer custo, transformar vasta região produtiva ao sul de Ilhéus em uma aldeia Pataxó. Acontece que nem todos os moradores concordam com essa ideia. Mas ele sabe que o homem é movido pelo próprio interesse, embora não conte com a esperteza de todos “para levar vantagem em tudo”. Arrogante, o governo passou a distribuir privilégios só para os que se converteram em indígena: seja negro, branco, pobre ou rico. Foi o método que encontrou para convencer o sofrido camponês a virar índio. Não existe uma política específica de proteção à pobreza, mas uma condição sem a qual o morador não recebe os benefícios sociais. Os que não se submetem a essa condição continuam esquecidos pelas autoridades constituídas.
Se alguém adoece aqui e seu nome não consta nessa relação indígena, não será atendido pelo Estado; caso contrário, ele terá atendimento médico imediato a qualquer hora do dia ou da noite. Ainda contará com cesta-básica, vacinação, medicamentos, transporte e tarifa de energia grátis.
Tenho setenta anos e caminho vinte quilômetros de ida e volta até a estrada Ilhéus-Olivença. Se porventura me deparo nesse percurso com um veículo de assistência a esses índios, ele não me socorre porque não faço parte dessa tribo ressuscitada pela conveniência eleitoral do governo. Apesar da minha idade e vivendo na mesma condição de pobreza não recebo nenhuma proteção do Estado e ainda fui excluído do projeto anterior Luz para Todos porque não aderi ao programa socialista tupiniquim. Geralmente, os que não são cadastrados como índios só conseguem energia se a linha de transmissão passa pelo seu imóvel.
Comigo ainda fizeram pior: sem minha permissão, os operários da Meta desmataram, quebraram cercas e cancela e instalaram quatorze postes em nossa área, só para levar energia elétrica aos índios que vivem a três quilômetros daqui e me deixaram a ver navios.
Eis o resumo do programa de um governo que veio promover a justiça social e difundir o bem-estar de poucos.
      
                                                                                        Saudações,

                                                                                Diógenes Lins da Silva

sábado, 1 de dezembro de 2012

E como a fumaça se esvai......


       Na calada da noite, enquanto todos os corações da cidade dormem, surge uma névoa azulada e sonora. Pequenas e curtas notas ressoam partindo de uma pequenina -porém aconchegante- taverna, que esconde-se exprimida por dois prédios. Azul, Amarelo, Caramelo, Roxo... as notas surgem..
       A luz refletida na polidíssima Semi-acústica, iluminando de leve todo o salão. Ainda não hão ouvintes, mas os autores da arte do dia (ou da noite) se aprontam. Chegado o contrabaixo, o senhor regente das melodias, o show se dá início. Das grossas cordas do contrabaixo se soltam notas gordas e solitárias meladas em negro, como se pedindo o seu acompanhante, uma chamada ao seu companheiro, saltam regendo, definindo o que se trata ali, arpejam-se uns 5 ou 4 acordes definindo os seus “modos” ,que moldados como lhes descreverei adiante serão repintados com novas sensações, e enfim  encontra sua companheira fiel: Uma complexa harmonia colorida, proveniente de um Piano de calda, mantendo o ar clássico na taverna; agora o Baixo caminha, anda de mãos dadas com a harmonia do Piano, e sua busca incansável para servir apropriadamente cada acorde que lhe é solidariamente doado. Então, um desconhecido aparece e por trás da harmonia - já bem servida pelo Baixo - incrementa, inova, refaz, dá o emendo, com as notas um pouco mais agudas, conversa diretamente com o Piano, e com bons argumentos, eleva a conversa a uma grande reflexão, é a Semi-acústica, a adorada do jazz clássico e do bebop, ela impõe sua magnitude, como se conectasse todos os outros instrumentos, fazendo ressoar suas preparações racionalmente colocadas por sobre harmonia e Baixo.
        Surge então aquele que é o característico do jazz, grunhindo notas infames, saindo da conjuntura da música, re-colorindo o necessariamente “desprogramado” conjunto, de vez em vez aventurando-se no lado out, porém retornando gloriosamente, lembrando o Sax já empunhado pelo mestre Coltrane. Já passado o tema e o improviso do Sopro, a música dá licença para apresentar os músicos e suas imaginações devidamente e como um cortês, o jazz então começa  a fase dos improvisos.Bom aqui está uma parte crítica do texto, só posso narrar um dos instrumentos, e por votação democrática a eleita foi........ A graciosa, genial e minha companheira, a Semi-acústica alemã. A partir do ritmo da bateria jazzística (esquecida por mim), com seu tic-tchi-tizz característico, da inspiradora e agora mais discreta harmonia do piano,e o incansável e andante Baixo, começam a surgir no guitarrista jazz as ideias que nortearão todo o improviso e as elas vão surgindo, um pouco de out-side para deixar sombrio, um dórico para adoçar, um lídio com a nona aumentada assinando o ponto, e talvez um lócrio para terminar, tudo isso em milésimos de segundo, e então como num circuito a ideia corre para os braços, de lá para os dedos, que por sua vez traduzem e decodificam para as cordas, as mirabolantes ideias que agora amadurecidas se tornaram melodias geniais, que retomam nostalgicamente aos grandes mestres da guitarra jazz: o Wes Montgomery, Joe Pass, Pat Martino, Charlie Byrd....
       E ,às vezes, intercalados por alguns acordes, o improviso melódico e harmônico que acontecera aqui, se esvai como a fumaça dançante proveniente do charuto que um cidadão ao lado insiste em tragar,  deixando cores, azuis, amarelas, brancas e vermelhas, gostos doces e azedos, amargos e salgados, deixando sensações que olhos não vêem mas corações sentem. Se esvai junto a fumaça, de mãos dadas a ela, até o céu da noite da cidade adormecida.

                                                                                                   Ao Jazz.........

Olhos Vazios



        No canto do ônibus, costumeiramente vazio aos domingos, atrasado por conta de um show que com o fluxo de carros travara o trânsito de Ilhéus, estava sentado comportadamente um garoto franzino, com as linhas da face grosseiras, possivelmente de uma origem genética do sertão nordestino, terra de Lampião e Antônio Conselheiro. Em certo momento da pequena viagem de aproximadamente uns 7 a 9 minutos, o muleque canta , mesmo que desafinado e com voz fraca, os hinos de sua igreja (breves paródias gospel em Sol maior ou Dó, tons alegres livres de tensões e sutilezas musicais), a letra denunciava o “mal” do mundo “mundano” e aconselhava imperativamente: “ se entregue ao reino de deus” ou algo assim; A letra mexia com os pensamentos daquele menino assim como com o dos seus pais e irmãos, as mensagens passavam por entre seus ouvidos sem alguma digestão; a “entrega” ao caminho rumado da dependência e demência mental, a destruição dos seus desejos e vontades de cada um, para aceitar as convicções religiosas, se refletiam em seus pequenos olhos vagos, que olhavam o horizonte inexistente da sua própria inexistência, o autismo generalizado do cristianismo atinge mais uma vítima, a boca se mexia cuspindo a letra indigerida, os olhos opacos se alinhavam para o nada e a mente o seguia, olhos e espírito se estagnavam nas certezas que deixavam sua realidade mais branda, mais comum, mais aceitável, lhe retirava as forças para lutar, “apenas aceite, é um desígnio de deus” dizia, ensinava, martelava, escravizava...
        Já na saída, desce sem olhar para os lados ainda puxado pela música, que o levará até sua casa , sua cama e até o mais profundo do seu espírito, e a lástima  de uma sobrevivência de rumos traçados e medos formados, medos que assim como as convicções destruirão toda e qualquer esperança de elevação, de real amor à vida, e fecharão seus já vazios olhos .....

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Os poetas estão mortos?

                                             

      Bom, tem tempo que já considero a situação que vou narrar, como pesada, triste, imediata, ou talvez como um fim; Nossas vivências ,tomaram rumos muito diferentes desde o início de tudo, nos moldaram talvez e nos afrouxaram numa medida assustadora, muito mudou e temo que se siga no mesmo rumo, tenho muito a falar porque acho urgente depor as coisas, e demonstrar com racionalidade e emoção o quão isso pode se tornar venenoso e fatal, depois quero que pensem um tanto mais nos poetas mortos que já fomos.
      Primeiro, quero destacar o passado,o grande passado que tivemos, eram ininterruptas descobertas a cada dia e hora que passávamos juntos, no começo eram só os quatro haviam aberto suas mentes para as mais ousadas ,desafiadoras, megalomaníacas, revolucionárias e talvez brilhantes ideias, jamais imaginadas para garotos daquela idade, eram evocados os mais famosos e respeitados nomes da filosofia e da ciência, as complexas teorias nietzscheanas, Pietro Ubaldi, Spinoza, Marx, Foucault, Descartes, Socrátes,Schopenhauer.No início raciocínios virados para as críticas a existência de deus, depois organização social, e moralidade salvo engano; Aspirávamos novas formas sociais e meios para atingi-los, estudávamos esses meios, como torná-los possíveis? Éramos jovens diferentes, nunca nos destacamos assustadoramente em assunto de estudo na escola, mas florecía o pensamento livre, a rebeldia mental, o desconexo com convenções e o reconhecimento e estudos destas, mas principalmente florecía a arte de pensar, o amor ao pensar, o amor á arte, o amor ao conhecimento, éramos puros pensadores que tenderam a pensar dentre tantas coisas, no auter pensamento também, no reconhecimento e análise se si, e o amor que tínhamos á arte de pensar, ao saber, foi se expandindo e elevando até que passou a ser o sentimento que temos por cada um de nós mesmos, se tornou um vínculo extremamente forte, e o mais intenso que já tive e talvez terei, foi alvo de invejas, ciúmes e alguns impuros sentimentos; nunca fomos amigos mas sim irmãos, tão forte quanto os de sangue, não temo em dizer que morrería por vocês;Mas o quatro do início, se transformaram em cinco depois seis, sete, oito, onze... As reuniões instantâneas na casa de Pedro se tornavam gigantes discussões, de vários, onde eram expostos da forma mais pura o ego de vários conjugados ao grupo dos quatro pioneiros, era uma satisfação contagiar tantos, não sei se éramos interessantes por sermos engraçados ou porque nos admiravam ou sei lá o que, porém o nosso laço era muito forte, a irmandade era única e tão importante ,que o juramento “ pela nossa amizade” é o mais forte de todos o símbolo da verdade da afirmação, diziam que éramos fechados por mais que tentássemos aderir aos mais diversos egos e cabeças, mas foi que nos criamos assim, nasceu espontaneamente assim.Mas se enganava quem acha que somos o grupinho homogêneo de debilmentais com cara de drogados, que perambulavam dizendo palavras difíceis, e ouvindo músicas estranhas( somos musicais e também amamos a música, cada um do seu jeito),porém sempre diferentes em essência uns dois espíritas ou quase espíritas, um ex-crente, e um gostoso e genial ateu; dois fãs de Nietzsche, um amante da ciência, e o defensor do espiritismo;um jazzista de composições geniais e improvisos nem tanto, um baixista em aprendizado, um guitarrista de hard-rock fudido, e é claro o meio erudito.  Já fomos “ os viado”, “ os drogados”, “os paunucu”, “os góticos”, “os nerd”, e agora somos só “ os cara”.
      Só que hoje, parece que o grupo se desvinculou aos poucos, foram tantos os agregados que a essência se perdeu, digo não sou contra novos rostos e personalidades, mas acabaram por fragilizar as reuniões do puro pensamento, amo muito meus amigos, e considero Ricardo ,Giulia, Adrian, Bruno ,Vitor, Joãosinho meus irmãos, não é deles que citei agora, mas sim dos outros agregados que surgiram do nada e fragilizaram as reflexões, sinto falta delas, foram o mais importantes para o nosso surgimento, floreceram o amor dentre nós. E também vieram as descobertas dos prazeres, dos relacionamentos, fui pego por duas nesses tempos, terminei a pouco com uma de quem gostei mais, mas que não dava mais certo, e to melhorando, um não quis nenhuma e outros dois ainda continuam, mas nunca coloquei nenhuma e nem nunca colocarei nenhuma delas aos pés dos poetas mortos, mas não sei como ainda pensam os outros, tudo isso nos toma aos poucos o que criamos de mais precioso, e mais necessário e vital, nos tira a verdadeira descoberta de vida que construímos, sinto que os velhos tempos não voltarão, que as antigas reflexões tenham se tornado um passado, ou linhas jogadas ao vento como essas que escrevo com intensa dificuldade e emoção. Esse é o meu desabafo, lamento e minha réplica, não sou eu que estou perdendo interesse pelo mundo, mas vocês também, espero que a nossa sociedade dos poetas mortos não esteja realmente morta, e se estiver , que ressuscite em 3 dias como fez o protagonista da breve lenda. 


                                                                                      De qualquer os amo...

domingo, 23 de setembro de 2012

Ás Mulheres


Às Mulheres..

       Às Mulheres que atuam como Mulheres e aturam suas crises internas e as inexperiências dos homens; que sendo detentoras de uma versatilidade fenomenal, são capazes de assumir os mais diversos papéis, esses seres que acima de tudo tem a capacidade de deixar-nos extremamente felizes ou tristes, à essas senhoras dos extremos, que lidam com brasa e gelo com as mãos nuas. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A dor e sua consequência

        A dor foi um assunto bastante tratado pelo meu grande ídolo Friedrich Nietzsche, mas talvez com uma certa ingenuidade e misticismo, Nietzsche acreditava que a dor não deveria ser recriminada nem tida como algo maléfico, mas sim como algo capaz de levar o homem ao sucesso segundo ele nunca se chega a um lugar por um caminho reto, os objetivos somente podem ser alcançados após passar por um processo de pequenos fracassos, para ele não existem dons e sim objetivos alcançados através do sofrimento; Assim portanto, a felicidade e a satisfação provem sempre de um caminho trilhado por entre obstáculos de sofrimento e dor.
       Essa visão romântica de Nietzsche para com a dor e sofrimento, reflete em seu leitor uma imagem inversa àquela que o filósofo antes desejara; a visão positiva direcionada para a dor o pro sofrimento, se torna para os espíritos mais fracos uma fuga dos seus problemas e futuramente uma adoração e hipervalorização desse momento singular, estes então passam a viver em pró dessa apreciação que mais me parece um caso de masoquismo, e não evoluem por estarem parados na etapa do sofrer para alcançar o objetivo.
       Portanto, o que Nietzsche quis dizer com sua visão positiva quanto a dor e o sofrimento, era a necessidade de se passar por momentos como esse para que se chegue a um resultado satisfatório, ele acreditava que um espírito quando aparecesse um obstáculo o que é esperado, evoluiria ao passar dele mas somente quando este estivesse motivado.     

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O Homem Natural

       O homem na sua forma mais natural, constitui um intrigante mistério até hoje, já que não há casos atualmente de homens que viveram na total ausência de contato com a sociedade humana, que viveram e sobreviveram totalmente isolados e levados por seus instintos e vontade de potência. Mas existem indícios de crianças que passaram parte de sua infância na natureza, isoladas, e tais indícios podem nos dar uma mínima ideia de como seria o homem natural; Como o garoto John, africano de um País que não me recordo o nome, fugiu aos 4 anos de idade, de sua casa para a selva, onde foi acolhido por um grupo de macacos, anos depois foi encontrado por uma mulher, que o entregou a um casal que cuidava de crianças, após um longo processo de socialização e agora com 18 o garoto já pronuncia algumas palavras no dialeto do seu povoado e freqüenta a escola bem atrasado por sinal;Ou seja o garoto após passar sua infância na natureza e na companhia de animais, passou a adotar seus comportamentos, e somente após ser socializado novamente retoma a sua “humanidade”.
        E então somos levados a se perguntar, de onde então vem a humanidade do homem, pelo visto essa tal “humanidade” não é natural do homem, já que fora do alcance das influencias sociais o homem não se retém de comportamentos tipicamente humanos. Será que a humanidade é na verdade um fruto da socialização e da educação, que o individuo passa desde o momento do nascimento, será que o homem isoladamente não é fruto da evolução, e talvez da imitação, é necessário que admitamos que o homem durante seu processo de socialização, não faz outra coisa se não imitar e copiar os resultados de sua percepção, e nada mais que isso.
       Já conhecemos o homem socializado o comum, mas como se daria então a existência de um homem não socializado, isolado e natural; O homem na forma mais natural e essencial, na verdade não constitui a definição de “homem” que todos nós temos; o homem natural, é um homem regredido mais próximo talvez dos animais, não sabe ao certo como usar sua racionalidade, está entregue á sua vontade de potencia e somente ela, um sujeito essencialmente niilista. O homem selvagem não possui consciência reflexiva, quando isolado claro, e não possui os mais refinados sentimentos, somente a raiva e a necessidade; a única coisa que nesse caso o diferencia dos animais é a capacidade de planejamento e só, o homem essencialmente natural não passa de um ser praticamente bestializado.
       A humanidade que tanto se gaba de ser a espécie mais evoluída deste planeta, o resultado do mais perfeito processo de evolução, e na verdade esconde em sua essência um ser bestializado desprovido de quaisquer virtudes e moral, uma besta niilista, o que somos na realidade é o maior mistério já imaginado.
Nós devemos ser a mudança que queremos ver no mundo.” Gandhi