Bom, tem tempo que já considero a
situação que vou narrar, como pesada, triste, imediata, ou talvez como um fim;
Nossas vivências ,tomaram rumos muito diferentes desde o início de tudo, nos
moldaram talvez e nos afrouxaram numa medida assustadora, muito mudou e temo
que se siga no mesmo rumo, tenho muito a falar porque acho urgente depor as
coisas, e demonstrar com racionalidade e emoção o quão isso pode se tornar
venenoso e fatal, depois quero que pensem um tanto mais nos poetas mortos que já
fomos.
Primeiro, quero destacar o passado,o
grande passado que tivemos, eram ininterruptas descobertas a cada dia e hora
que passávamos juntos, no começo eram só os quatro haviam aberto suas mentes
para as mais ousadas ,desafiadoras, megalomaníacas, revolucionárias e talvez
brilhantes ideias, jamais imaginadas para garotos daquela idade, eram evocados
os mais famosos e respeitados nomes da filosofia e da ciência, as complexas
teorias nietzscheanas, Pietro Ubaldi, Spinoza, Marx, Foucault, Descartes,
Socrátes,Schopenhauer.No início raciocínios virados para as críticas a
existência de deus, depois organização social, e moralidade salvo engano;
Aspirávamos novas formas sociais e meios para atingi-los, estudávamos esses
meios, como torná-los possíveis? Éramos jovens diferentes, nunca nos destacamos
assustadoramente em assunto de estudo na escola, mas florecía o pensamento
livre, a rebeldia mental, o desconexo com convenções e o reconhecimento e
estudos destas, mas principalmente florecía a arte de pensar, o amor ao pensar,
o amor á arte, o amor ao conhecimento, éramos puros pensadores que tenderam a
pensar dentre tantas coisas, no auter pensamento também, no reconhecimento e
análise se si, e o amor que tínhamos á arte de pensar, ao saber, foi se expandindo
e elevando até que passou a ser o sentimento que temos por cada um de nós
mesmos, se tornou um vínculo extremamente forte, e o mais intenso que já tive e
talvez terei, foi alvo de invejas, ciúmes e alguns impuros sentimentos; nunca
fomos amigos mas sim irmãos, tão forte quanto os de sangue, não temo em dizer
que morrería por vocês;Mas o quatro do início, se transformaram em cinco depois
seis, sete, oito, onze... As reuniões instantâneas na casa de Pedro se tornavam
gigantes discussões, de vários, onde eram expostos da forma mais pura o ego de
vários conjugados ao grupo dos quatro pioneiros, era uma satisfação contagiar
tantos, não sei se éramos interessantes por sermos engraçados ou porque nos admiravam
ou sei lá o que, porém o nosso laço era muito forte, a irmandade era única e
tão importante ,que o juramento “ pela nossa amizade” é o mais forte de todos o
símbolo da verdade da afirmação, diziam que éramos fechados por mais que
tentássemos aderir aos mais diversos egos e cabeças, mas foi que nos criamos
assim, nasceu espontaneamente assim.Mas se enganava quem acha que somos o
grupinho homogêneo de debilmentais com cara de drogados, que perambulavam
dizendo palavras difíceis, e ouvindo músicas estranhas( somos musicais e também
amamos a música, cada um do seu jeito),porém sempre diferentes em essência uns
dois espíritas ou quase espíritas, um ex-crente, e um gostoso e genial ateu;
dois fãs de Nietzsche, um amante da ciência, e o defensor do espiritismo;um
jazzista de composições geniais e improvisos nem tanto, um baixista em
aprendizado, um guitarrista de hard-rock fudido, e é claro o meio erudito. Já fomos “ os viado”, “ os drogados”, “os paunucu”,
“os góticos”, “os nerd”, e agora somos só “ os cara”.
Só que hoje, parece que o grupo se desvinculou
aos poucos, foram tantos os agregados que a essência se perdeu, digo não sou
contra novos rostos e personalidades, mas acabaram por fragilizar as reuniões
do puro pensamento, amo muito meus amigos, e considero Ricardo ,Giulia, Adrian,
Bruno ,Vitor, Joãosinho meus irmãos, não é deles que citei agora, mas sim dos outros
agregados que surgiram do nada e fragilizaram as reflexões, sinto falta delas,
foram o mais importantes para o nosso surgimento, floreceram o amor dentre nós.
E também vieram as descobertas dos prazeres, dos relacionamentos, fui pego por
duas nesses tempos, terminei a pouco com uma de quem gostei mais, mas que não
dava mais certo, e to melhorando, um não quis nenhuma e outros dois ainda
continuam, mas nunca coloquei nenhuma e nem nunca colocarei nenhuma delas aos
pés dos poetas mortos, mas não sei como ainda pensam os outros, tudo isso nos
toma aos poucos o que criamos de mais precioso, e mais necessário e vital, nos
tira a verdadeira descoberta de vida que construímos, sinto que os velhos
tempos não voltarão, que as antigas reflexões tenham se tornado um passado, ou
linhas jogadas ao vento como essas que escrevo com intensa dificuldade e
emoção. Esse é o meu desabafo, lamento e minha réplica, não sou eu que estou
perdendo interesse pelo mundo, mas vocês também, espero que a nossa sociedade
dos poetas mortos não esteja realmente morta, e se estiver , que ressuscite em
3 dias como fez o protagonista da breve lenda.
De qualquer os amo...